maio de 2013 (1)
Nunca te aconteceu receberes uma prenda de um amigo e sentires logo o desejo de lhe retribuir? E de o fazeres não tanto para cumprir uma obrigação, mas por um sentimento de verdadeiro amor e reconhecimento? Tenho a certeza que sim.
Se isto sucede connosco, imagina como será com Deus, com Deus que é Amor.
Ele
retribui sempre todas as ofertas que fazemos aos nossos próximos em Seu
nome. É uma experiência que os cristãos verdadeiros fazem com muita
frequência. E, de cada vez, é sempre uma surpresa. Nunca nos habituamos à
imaginação de Deus. Poderia dar-te mil ou dez mil exemplos. Poderia até
escrever um livro acerca disso. Verias como é verdadeira aquela imagem:
«uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso
regaço», que representa a abundância com que Deus retribui, e representa
a Sua magnanimidade.
«Já
era noite em Roma. No apartamento de uma cave, um pequeno grupo de
raparigas, que queriam viver o Evangelho, davam as boas-noites. Nisto,
toda a campainha. Quem seria àquela hora? Era um homem, em pânico,
desesperado: no dia seguinte ia ser expulso de casa com a família,
porque não tinha dinheiro para pagar a renda. As raparigas olharam umas
para as outras e, num acordo silencioso, abriram a gavetinha onde, em
envelopes separados, tinham guardado o resto dos seus salários e uma
reserva para pagar o gás, o telefone e a eletricidade. Deram tudo àquele
homem, sem pensar duas vezes. E foram dormir, felizes. Alguém haveria
de pensar nelas. Mas ainda o dia não tinha nascido, quando o telefone
tocou. “Vou já para aí, num táxi”, disse aquele mesmo homem. Admiradas
com o meio de transporte que ia usar, as raparigas ficaram à sua espera.
Pela expressão do visitante, qualquer coisa tinha mudado: “Ontem à
noite, quando cheguei a casa, encontrei uma carta a comunicar-me uma
herança que nunca pensei que fosse receber. O meu coração sugeriu-me
logo que vos desse metade do dinheiro”. A quantia era exatamente o dobro
daquilo que elas, generosamente, tinham dado».
«Dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço».
Por
acaso também já fizeste uma experiência deste género? Se ainda não,
lembra-te que a nossa oferta deve ser feita desinteressadamente, a quem
quer que nos peça, sem esperar que seja retribuída.
Experimenta. Mas não o faças para ver o resultado, mas só porque amas a Deus.
Vais dizer-me: «Mas eu não tenho nada».
Não
é verdade. Se quisermos, temos tesouros imensos e inesgotáveis: o nosso
tempo livre, o nosso afeto, o nosso sorriso, o nosso conselho, a nossa
cultura, a nossa paz, a nossa palavra para convencer aqueles que podem
dar qualquer coisa a quem não tem...
Vais-me dizer ainda: «Mas eu não sei a quem dar».
Olha
à tua volta: lembra-te daquele doente no hospital, daquela senhora
viúva sempre sozinha, daquele teu colega tão desanimado porque perdeu o
ano, daquele jovem desempregado sempre triste, do teu irmãozito que
precisa da tua ajuda, daquele amigo que está na cadeia, daquele aprendiz
hesitante. É neles que Cristo está à tua espera.
Assume
um novo tipo de comportamento, o do cristão – totalmente impregnado de
Evangelho –, que é um comportamento anti-egoísta e despreocupado.
Renuncia a pôr a tua segurança nos bens da Terra e apoia-te em Deus.
Assim é que se vai ver a tua fé n’Ele. E em breve será confirmada, pela
oferta que voltarás a receber.
E
é lógico que Deus não procede assim para te enriquecer ou para nos
enriquecer. Ele faz isso para que outros, muitos outros, ao ver os
pequenos milagres que se realizam com o nosso dar, também façam o mesmo.
Ele
faz isso para que, quanto mais tivermos, mais possamos dar. Para que –
como verdadeiros administradores dos bens de Deus – façamos circular
tudo na comunidade que nos rodeia, até que se possa dizer, como se dizia
da primeira comunidade de Jerusalém: entre eles não havia nenhum pobre
(cf. At 4, 34).
Vais sentir que, assim, contribuis para dar uma segurança interior à revolução social que o mundo espera.
«Dai e ser-vos-á dado».
É claro que Jesus estava a pensar, em primeiro lugar, na recompensa que
vamos receber no Paraíso. Mas tudo o que acontece nesta Terra é já um
prelúdio e uma garantia do Paraíso.
Chiara Lubich
1) Palavra de Vida. Comentário de 1978, publicado em Città Nuova, 1978/10 e 2008/18, p. 9.
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