quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Palavra de Vida - Dezembro - com fotografias

Para os mais jovens aqui fica a Palavra de Vida deste mês - adaptação ao comentário de Chiara Lubich - ilustrada com fotografias. Pode fazer-se o download para o computador ou clicar em cima para ver a imagem maior.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Palavra de Vida - Dezembro

«Nada é impossível a Deus» [Lc 1, 37]. (1)

Na Anunciação, Maria pergunta ao Anjo: «Como será isso?» (2), e ele responde: «Nada é impossível a Deus», dando-lhe como prova o exemplo de Isabel, que concebera um filho na sua velhice. Maria acreditou e tornou-se a Mãe do Senhor.
Deus é omnipotente. Esta Sua qualidade é mencionada em diversas situações, na Sagrada Escritura, quando se quer exprimir a força de Deus: ao abençoar, ao julgar, ao dirigir o curso dos acontecimentos, ao realizar os Seus planos.
Existe um único limite à omnipotência de Deus: é a liberdade humana. Esta pode opor-se à vontade de Deus. Mas, opondo-se a Deus, a pessoa enfraquece espiritualmente, quando, pelo contrário, seria chamada a partilhar a própria força de Deus.

«Nada é impossível a Deus».

(...) É uma Palavra que nos convida a ter uma confiança ilimitada no amor de Deus-Pai, porque, se Deus é e se o Seu ser é Amor, a confiança plena Nele não é senão uma consequência lógica.
Todas as graças estão em Seu poder: tanto as físicas como as espirituais, as possíveis e as impossíveis. E Deus concede-as tanto a quem as pede como a quem não pede, pois, como diz o Evangelho, Ele, o Pai que está no Céu, «faz com que o Sol se levante sobre os bons e os maus» (3). Mas Deus pede-nos para agirmos todos como Ele, com o mesmo amor universal, sustentado pela fé de que:

«Nada é impossível a Deus».

Como viver, então, esta Palavra na vida de todos os dias?
Todos nós temos que enfrentar, de vez em quando, situações difíceis, dolorosas, quer na nossa vida pessoal, quer nos relacionamentos com os outros. E experimentamos, às vezes, toda a nossa fraqueza, porque notamos em nós apegos a coisas e a pessoas que nos tornam escravos, com amarras, de que nos gostaríamos de libertar. Encontramo-nos, muitas vezes, diante de paredes de indiferença e de egoísmo, e sentimo-nos sem coragem perante acontecimentos que não conseguimos compreender.
Pois bem, nesses momentos, a Palavra de Vida pode vir em nosso auxílio. Jesus deixa-nos fazer a experiência da nossa incapacidade, não para nos desencorajar, mas para nos ajudar a compreender melhor que «nada é impossível a Deus». Ele prepara-nos para experimentar a extraordinária força da Sua graça, que se manifesta precisamente quando vemos que, com as nossas pobres forças, não conseguimos resistir.

«Nada é impossível a Deus».

Repetindo dentro de nós esta frase nos momentos mais críticos, alcançaremos da Palavra de Deus a energia que ela contém, fazendo-nos participar, de certa forma, da própria omnipotência de Deus. Mas há uma condição: temos que viver a Sua vontade, procurando irradiar à nossa volta o amor que está depositado nos nossos corações. Assim estaremos em sintonia com o Amor omnipotente de Deus pelas suas criaturas, para Quem tudo é possível, contribuindo para realizar os Seus planos sobre os indivíduos e sobre a humanidade.
Mas há um momento especial em que podemos viver esta Palavra e experimentar toda a sua eficácia: é na oração.
Jesus disse que tudo o que pedirmos, em Seu nome, ao Pai, Ele nos concederá. Procuremos, portanto, pedir-Lhe aquilo que considerarmos mais importante, com a certeza da fé de que nada é impossível a Ele: desde a solução de casos desesperados, até à paz no mundo, a cura de doenças graves, e até a resolução de conflitos familiares e sociais.
Além disso, se formos muitos a pedir a mesma coisa, estando em pleno acordo através do amor recíproco, então será o próprio Jesus no meio de nós a pedir ao Pai e, segundo a Sua promessa, seremos atendidos.
Com esta fé na omnipotência de Deus e no seu Amor, também nós pedimos um dia para N. que aquele tumor, detectado numa radiografia, "desaparecesse", ou que fosse um erro ou um fantasma. E assim aconteceu.
Esta confiança ilimitada, que nos faz sentir nos braços de um Pai a Quem tudo é possível, deve acompanhar-nos em todas as vicissitudes da vida. Não quer dizer que vamos obter sempre aquilo que pedirmos. A Sua é a omnipotência de um Pai: Ele usa-a sempre e unicamente para o bem dos seus filhos, mesmo que eles não saibam. O importante é viver cultivando a certeza de que nada é impossível a Deus, e isto vai fazer-nos experimentar uma paz nunca antes sentida.

Chiara Lubich

1) Palavra de Vida, Dezembro de 1999, publicada em Città Nuova, 1999/22, p. 7; 2) cf. Lc 1, 34; 3) cf. Mt 5, 45.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Palavra de Vida - Novembro

«É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino do Céu» [Mt 19, 24]. (1)

(…)
Faz-nos impressão ouvir esta frase? Penso que temos razão em ficar admirados e talvez em pensar naquilo que deveríamos fazer. Jesus nunca disse nada só por dizer. Por isso, é preciso levarmos estas palavras a sério, sem pretender diluí-las.
Mas procuremos compreender o seu verdadeiro sentido a partir do próprio Jesus, pelo modo como Ele se comportava com os ricos. Ele visitava também pessoas abastadas. A Zaqueu, que deu só metade dos seus bens, Jesus disse: a salvação entrou nesta casa.
Além disso, os Actos dos Apóstolos testemunham que, na Igreja primitiva, a comunhão dos bens era livre e, portanto, não se exigia a renúncia concreta a tudo o que se possuía.
Jesus não tinha, pois, a intenção de fundar apenas uma comunidade de pessoas chamadas a segui-Lo (…), que deixassem de lado todas as riquezas. No entanto, diz:

«É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino do Céu».

Então o que é que Jesus condena? Não condena, com certeza, os bens da Terra em si, mas sim o rico que está apegado aos bens.
E porquê?
É claro: porque tudo pertence a Deus! E o rico, pelo contrário, comporta-se como se as riquezas fossem suas.
A verdade é que as riquezas ocupam, facilmente, o lugar de Deus no coração humano. Elas cegam e predispõem a pessoa para todos os vícios. Paulo, o Apóstolo, escreveu: «Os que querem enriquecer caem na tentação, na armadilha e em múltiplos desejos insensatos e nocivos que precipitam os homens na ruína e na perdição. Porque a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro. Arrastados por ele, muitos se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições» (2).
Já Platão tinha afirmado: «É impossível que um homem extraordinariamente bom seja ao mesmo tempo extraordinariamente rico».
Qual deve ser, então, a atitude de quem possuir bens? É preciso que tenha o coração livre, totalmente aberto a Deus, que se sinta unicamente administrador dos seus bens e saiba, como disse João Paulo II, que sobre eles paira uma hipoteca social.
Os bens desta Terra, não sen-do um mal em si, não devem ser desprezados. Mas é preciso usá-
-los bem. Não são as mãos, mas sim o coração é que deve estar lon-ge deles. Trata-se de os saber uti-lizar para o bem dos outros. Quem for rico, seja-o para os outros.

«É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino do Céu».

Mas cada um pode dizer: eu, realmente, não sou nada rico e, por isso, estas palavras não me dizem respeito.
Prestem atenção. A pergunta que os discípulos, estupefactos, fizeram a Cristo, logo a seguir a esta Sua afirmação, foi: «Então, quem pode salvar-se?» (3). Ela mostra claramente que estas palavras se dirigiam um pouco a todos.
Mesmo os que deixaram tudo para seguir Cristo podem ter o coração apegado a mil e uma coisas. Até um pobre, que blasfema porque lhe tocaram na sacola, pode ser um rico diante de Deus.
(…)

Chiara Lubich

1) Palavra de Vida, Julho de 1979, publicada integralmente em Essere la Tua Parola. Chiara Lubich e cristiani di tutto il mondo, vol. II, Città Nuova, Roma 1982, pp. 41-43; 2) 1 Tm 6, 9-10; 3) Mt 19, 25.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Palavra de Vida - Outubro - com fotografias

Para os mais jovens aqui fica a Palavra de Vida deste mês - adaptação ao comentário de Chiara Lubich - ilustrada com fotografias. Pode fazer-se o download para o computador ou clicar em cima para ver a imagem maior.

Palavra de Vida - Outubro

«Amarás o teu próximo como a ti mesmo» [Mt 22, 39]. (1)

Esta frase já existia no Antigo Testamento (2). Mas, para responder a uma pergunta traiçoeira, Jesus integra-se na grande tradição profética e rabínica que procurava o princípio unificador da Torah, isto é, do ensinamento de Deus contido na Bíblia. O Rabi Hillel, um seu contemporâneo, tinha dito: «Não faças ao teu próximo aquilo que é odioso a ti; nisto está toda a lei» (3).
Para os mestres do Judaísmo, o amor ao próximo derivava do amor a Deus, que criou o homem à Sua imagem e semelhança. Por isso, não se pode amar a Deus sem amar a Sua criatura: este é o verdadeiro motivo do amor ao próximo, e é «um grande princípio geral na lei» (4).
Jesus reforça esse mesmo princípio e acrescenta que o mandamento de amar o próximo é semelhante ao primeiro e maior mandamento, que diz para amar a Deus com todo o coração, a mente e a alma. Ao confirmar uma relação de semelhança entre os dois mandamentos, Jesus liga-os definitivamente. E toda a tradição cristã manteve esta ligação, como dirá de forma lapidar o apóstolo João: «Aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê» (5).

«Amarás o teu próximo como a ti mesmo».

E “próximo” – como afirma claramente todo o Evangelho – é cada ser humano, homem ou mulher, amigo ou inimigo, a quem se deve respeito, consideração, estima. O amor ao próximo é, ao mesmo tempo, universal e pessoal. Abraça toda a Humanidade e concretiza-se naquele-que-está-junto-de-nós.
Mas quem é que nos pode dar um coração tão grande? Quem é que pode suscitar em nós uma benevolência tal que faça considerar nossas amigas – que nos estão próximas – até pessoas que nos são completamente estranhas. Ou que nos leve a ultrapassar o amor por nós mesmos, para nos vermos reflectidos nos outros? É uma dádiva de Deus, ou melhor, é o próprio amor de Deus, que «foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado» (6).
Por isso, não é um amor qualquer, uma simples amizade, ou apenas filantropia, mas é aquele amor que foi derramado nos nossos corações desde o nosso baptismo. Um amor que é a vida do próprio Deus, da Santíssima Trindade, e de que nós podemos participar. Portanto, o amor é tudo. Mas, para o podermos viver bem, é necessário conhecer as suas qualidades, descritas no Evangelho e nas Escrituras em geral.
Parece-nos poder resumir os seguintes aspectos fundamentais:
Antes de mais nada, Jesus, que morreu por todos, amando todos, ensina-nos que o verdadeiro amor é aquele que é dirigido a todos. Não é como o amor que nós vivemos muitas vezes, simplesmente humano, e que tem um alcance muito restrito: a família, os amigos, os vizinhos… O amor verdadeiro, que Jesus quer, não admite discriminações. Não distingue a pessoa simpática da antipática. Aqui não existe o bonito ou o feio, o grande ou o pequeno. Para este amor não existe aquele que é da minha pátria ou o estrangeiro, o da minha Igreja ou de uma outra, da minha religião ou de uma outra. Este amor ama a todos. E é assim que nós devemos fazer: amar a todos.
Além disso, o amor verdadeiro é o primeiro a amar, não espera por ser amado, como acontece em geral com o amor humano em que só se amam aqueles que nos amam. Não, o amor verdadeiro toma a iniciativa, como fez o Pai quando, sendo nós ainda pecadores – portanto, pessoas que não amavam –, mandou o seu Filho para nos salvar.
Portanto: amar a todos e sermos os primeiros a amar.
E ainda, o amor verdadeiro vê Jesus em cada próximo: «Foi a mim que o fizeste» (7), dir-nos-á Jesus no Juízo Final. E isto é válido tanto para o bem que fizermos como para o mal, infelizmente.
O amor verdadeiro ama o amigo e também o inimigo. Faz-lhe o bem e reza por ele. Jesus quer também que o amor – que Ele trouxe à Terra – se torne recíproco: que nos amemos uns aos outros, até se chegar à unidade. Todas estas qualidades do amor fazem-nos compreender e viver melhor a Palavra de Vida deste mês.

«Amarás o teu próximo como a ti mesmo».

Sim, o amor verdadeiro ama o outro como a si mesmo. E isto deve ser tomado à letra. É preciso ver no outro, realmente, a nossa imagem, e fazer ao outro aquilo que faríamos a nós mesmos. O amor verdadeiro é aquele que sabe sofrer com quem sofre, alegrar-se com quem se alegra, carregar os pesos dos outros. Que – como diz S. Paulo – sabe fazer-se um com a pessoa amada. É um amor, não apenas de sentimentos, ou de palavras bonitas, mas de factos concretos.
Aqueles que têm uma crença religiosa diferente também procuram fazer assim, através da chamada “regra de ouro” – que se encontra em todas as religiões – e que aconselha a fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem a nós. Gandhi explica-a de um modo muito simples e eficaz: «Não posso fazer-te mal sem me ferir a mim próprio» (8).
Este mês, então, deve ser uma ocasião para pôr de novo em relevo o amor ao próximo que, assim, adquire muitos rostos: o vizinho de casa, a colega da escola, o amigo ou o parente mais chegado. Mas tem também os rostos daquela Humanidade angustiada, que a televisão traz até às nossas casas, de lugares onde há guerra ou catástrofes naturais. Antigamente, eram-nos desconhecidos e distavam de nós milhares de quilómetros. Agora, até eles se tornaram nossos próximos.
O amor sugerir-nos-á, momento a momento, o que fazer, e dilatará pouco a pouco o nosso coração até à medida do coração de Jesus.

Chiara Lubich

1) Palavra de Vida, Outubro de 1999, publicada em Città Nuova, 1999/18, p. 7; 2) Lv 19, 18; 3) Shabb. 31a; 4) Rabi Akiba, Slv 19, 18; 5) 1 Jo 4, 20; 6) Rm 5, 5; 7) cf. Mt 25, 40; 8) cf. Wilhelm Muhs, Parole del cuore, Milão 1996, p. 82.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Palavra de Vida - Setembro - com fotografias

Para os mais jovens aqui fica a Palavra de Vida deste mês - adaptação ao comentário de Chiara Lubich - ilustrada com fotografias. Pode fazer-se o download para o computador ou clicar em cima para ver a imagem maior.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Palavra de Vida - Setembro

«Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete» [Mt 18, 22]. (1)

É com estas palavras que Jesus responde a Pedro. Ele, depois de ouvir Jesus dizer coisas maravilhosas, perguntou-lhe: «Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe devo perdoar? Até sete vezes?». Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete».
Provavelmente, Pedro, sob a influência da pregação do Mestre, tinha pensado – bom e generoso como era – em lançar-se a fazer uma coisa que já lhe parecia excepcional, isto é, chegar a perdoar até sete vezes. (...)
Mas Jesus, ao responder: «... até setenta vezes sete», mostra que, para Ele, o perdão deve ser ilimitado: é preciso perdoar sempre.

«Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete».

Esta Palavra faz recordar o canto bíblico de Lamec, um descendente de Adão: «Se Caim foi vingado sete vezes, Lamec sê-lo-á setenta vezes sete» (2). E assim começou a alastrar o ódio no relacionamento entre as pessoas do mundo inteiro, aumentando como as cheias de um rio. A este alastrar do mal, Jesus opõe o perdão sem limites, incondicional, capaz de quebrar o círculo da violência.
O perdão é a única solução para impedir a desordem e garantir à humanidade um futuro que não seja a sua autodestruição.

«Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete».

Perdoar. Perdoar sempre. Mas o perdão não é o esquecimento, que, muitas vezes, pode significar não querer olhar de frente a realidade. O perdão não é fraqueza, isto é, menosprezar uma injustiça, por medo do mais forte que a cometeu. O perdão não consiste em declarar sem importância aquilo que é grave, ou chamar bem àquilo que é mal.
O perdão não é indiferença. O perdão é um acto de vontade e de lucidez, e, por isso, de liberdade. Consiste em aceitar o irmão ou a irmã tal como é, apesar do mal que nos fez, do mesmo modo que Deus nos recebe, a nós pecadores, apesar dos nossos defeitos. O perdão consiste em não responder à ofensa com a ofensa, mas em fazer aquilo que diz S. Paulo: «Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem» (3).
O perdão consiste em oferecer, a quem nos ofende, a possibilidade de um novo relacionamento connosco. Uma possibilidade, portanto, para ele e para nós, de recomeçar a vida, de ter um futuro em que o mal não prevaleça.

«Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete».

Como poderemos, então, viver esta Palavra?
São Pedro tinha perguntado a Jesus: «Quantas vezes devo perdoar (ao meu irmão)?».
E Jesus, ao responder, já estava a pensar, sobretudo, nos relacionamentos entre cristãos, entre membros da mesma comunidade.
Por isso, antes de mais nada, é com os outros irmãos e irmãs na Fé que temos de nos comportar assim: na família, no trabalho, na escola ou na comunidade de que fazemos parte.
Sabemos bem quantas vezes somos levados a retribuir a ofensa recebida com um acto, ou com uma palavra correspondente.
Sabe-se que, devido às diferenças de carácter, ao nervosismo, ou a outras causas, as faltas de amor são frequentes entre pessoas que vivem juntas. Pois bem, é preciso recordar que só uma atitude de perdão, sempre renovado, pode manter a paz e a unidade entre irmãos.
Haverá sempre a tendência de pensar nos defeitos dos outros, de nos recordarmos do seu passado, de pretender que sejam diferentes daquilo que são... É preciso criar o hábito de os ver com olhos novos e vê-los como se fosse pela primeira vez, aceitando-os sempre, imediatamente e de um modo sincero, mesmo que eles não se arrependam.
Vão-me dizer: «Mas isso é difícil». E compreende-se. Mas é aqui que está a beleza do cristianismo. Não é por acaso que somos discípulos de Cristo. Ele, na cruz, pediu ao Pai para perdoar àqueles que Lhe tinham dado a morte, e ressuscitou.
Coragem. Iniciemos uma vida assim, que é a garantia de uma paz nunca antes experimentada e de muita alegria, completamente desconhecida.

Chiara Lubich

1) Palavra de Vida, Setembro de 1999, publicada integralmente em Città Nuova, 1999/15-16, p. 41; 2) Gn 4, 24; 3) Rm 12, 21.

domingo, 1 de agosto de 2010

Palavra de Vida - Agosto

«Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor» [Lc 1, 45]. (1)

Esta Palavra faz parte de um acontecimento muito simples, mas, ao mesmo tempo, altíssimo: é o encontro entre duas gestantes, entre duas mães, cuja simbiose espiritual e física com os seus filhos é total. Os filhos falam e sentem através das suas mães. Quando Maria fala, o menino de Isabel salta-lhe de alegria no seio. Quando fala Isabel, parece que as palavras lhe foram colocadas na boca pelo Precursor. Mas, enquanto as primeiras palavras do seu hino de louvor a Maria são dirigidas directamente à mãe do Senhor, as últimas são pronunciadas na terceira pessoa: «Feliz daquela que acreditou».
Assim, a sua «afirmação adquire um carácter de verdade universal: a bem-aventurança é válida para todos os crentes. Refere-se àqueles que acolhem a Palavra de Deus e a põem em prática, e que encontram em Maria o modelo ideal» (2).

«Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor».

É a primeira bem-aventurança do Evangelho que diz respeito a Maria, mas também a todos aqueles que a quiserem seguir e imitar. Em Maria, existe uma estreita ligação entre fé e maternidade, como fruto de ouvir a Palavra. E São Lucas, aqui, sugere-nos algo que tem a ver também connosco. Mais adiante, no seu Evangelho, Jesus diz: «Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática» (3). Quase a antecipar estas palavras, Isabel, movida pelo Espírito Santo, anuncia-nos que cada discípulo pode tornar-se “mãe” do Senhor. A condição é que acredite na Palavra de Deus e que a viva.

«Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor».

Maria, depois de Jesus, é aquela que melhor e mais perfeitamente soube dizer “sim” a Deus. Está sobretudo nisto a sua santidade e a sua grandeza. E, se Jesus é o Verbo, a Palavra que se encarnou, então Maria, pela sua fé na Palavra, é a Palavra vivida, embora sendo criatura como nós, igual a nós.
O papel de Maria como mãe de Deus é excelso e grandioso. Mas Deus não chama apenas a Virgem Maria a gerar Cristo em si. Embora de outra maneira, cada cristão tem uma função semelhante: a de encarnar Cristo até poder repetir, como São Paulo: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (4).
Mas como realizar isto?
Tendo a atitude de Maria em relação à Palavra de Deus, ou seja, tendo uma disponibilidade total. Acreditar, portanto, com Maria, que se irão realizar todas as promessas contidas na Palavra de Jesus e enfrentar, como Ela, se for preciso, o risco do absurdo que, às vezes, a sua Palavra comporta.
Grandes e pequenas coisas – mas sempre maravilhosas – acontecem a quem acredita na Palavra. Poder-se-iam encher muitos livros com os factos que o provam. Quem poderá esquecer quando, em plena guerra, acreditando nas palavras de Jesus «pedi, e ser-vos-á dado» (5), pedimos tudo aquilo de que precisavam muitos pobres na cidade, e vinham-nos trazer sacos de farinha, latas de leite em pó e de compota, lenha, roupas? Também hoje acontecem as mesmas coisas. «Dai e ser-vos-á dado» (6), e os armazéns da caridade continuam sempre cheios, mesmo se são esvaziados com regularidade.
Mas o que faz mais impressão é que as palavras de Jesus são verdadeiras sempre e em toda a parte. O auxílio de Deus chega pontualmente mesmo em circunstâncias impossíveis, e nos lugares mais isolados da Terra, como aconteceu há pouco tempo a uma mãe que vive numa grande pobreza. Um dia sentiu-se impelida a dar o último dinheiro que tinha a uma pessoa ainda mais pobre do que ela. Acreditava naquele «dai e ser-vos-á dado» do Evangelho. E sentiu uma grande paz no coração. Pouco depois, a sua filha mais nova mostrou-lhe um presente que acabara de receber de um parente idoso que, por acaso, tinha passado por ali: na sua mãozinha estava o dobro do dinheiro que ela dera.
Uma “pequena” experiência co-mo esta impele-nos a acreditar no Evangelho. E cada um de nós pode experimentar aquela alegria, aquela bem-aventurança que nos invade quando vemos realizadas as promessas de Jesus.
Quando, na vida de todos os dias, na leitura das Sagradas Escrituras, nos encontrarmos com a Palavra de Deus, temos que abrir o nosso coração e procurar ouvi-la, acreditando que aquilo que Jesus nos pede e promete se vai realizar. Depressa vamos descobrir, como Maria e como aquela mãe, que Ele mantém as suas promessas.

Chiara Lubich

1) Palavra de Vida, Agosto de 1999, publicada em Città Nuova, 1999/14, p. 33; 2) G. Rossé, Il Vangelo di Luca, Roma 1992, p. 67; 3) Lc 8, 21; 4) Gl 2, 20; 5) Mt 7, 7; 6) Lc 6, 38.

sábado, 3 de julho de 2010

Palavra de Vida - Julho - com fotografias

Para os mais jovens aqui fica a Palavra de Vida deste mês - adaptação ao comentário de Chiara Lubich - ilustrada com fotografias. Pode fazer-se o download para o computador ou clicar em cima para ver a imagem maior.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Palavra de Vida - Julho

«O Reino do Céu é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Tendo encontrado uma de grande valor, vende tudo quanto possui e compra a pérola» [Mt 13, 45-46]. (1)

Nesta breve parábola, Jesus consegue prender a atenção daqueles que o estavam a ouvir. Todos eles sabiam bem o valor das pérolas que, juntamente com o ouro, eram aquilo que havia de mais precioso, naquela época. Além disso, as Escrituras falavam da Sabedoria, isto é, do conhecimento de Deus, como de uma coisa que não se pode comparar «nem sequer às pedras preciosas» (2).

Mas, na parábola, vem em relevo o acontecimento excepcional, surpreendente e inesperado que foi aquele negociante ter descoberto, talvez num bazar, uma pérola que aos seus olhos experientes tinha um valor enorme. Com ela poderia, depois, obter um óptimo lucro! Foi por isso que, depois de fazer os seus cálculos, decidiu que valia a pena vender tudo o que possuía para comprar a pérola. E quem é que, no seu lugar, não teria feito o mesmo?

Eis então o significado profundo da parábola: o encontro com Jesus, ou seja, com o Reino de Deus no meio de nós – e aí está a pérola! –, é aquela ocasião única que temos mesmo que aproveitar, empregando inteiramente todas as nossas energias e aquilo que possuímos.

«O Reino do Céu é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Tendo encontrado uma de grande valor, vende tudo quanto possui e compra a pérola».

Não era a primeira vez que os discípulos se sentiam postos diante de uma exigência radical, isto é, diante daquele tudo que é preciso deixar para seguir Jesus: os bens mais preciosos, os afectos familiares, a segurança económica, as garantias para o futuro.

Mas, a Sua, não é uma exigência sem motivo ou absurda.

Por um “tudo” que se perde, existe um “tudo” que se encontra, infinitamente mais precioso. Todas as vezes que Jesus pede qualquer coisa, também promete dar muito, muito mais, numa medida superabundante. Assim, com esta parábola, garante-nos que vamos ganhar um tesouro que nos tornará ricos para sempre.

E, se pode parecer um erro deixar o certo pelo incerto, um bem seguro por um bem apenas prometido, pensemos no negociante da parábola: ele sabia que aquela pérola era muito preciosa e aguardou, confiante, o lucro que iria obter quando a vendesse. Da mesma maneira, quem quer seguir Jesus, sabe e vê, com os olhos da fé, qual é a enorme vantagem que vai ter ao partilhar com Ele a herança do Reino, por ter deixado tudo, ao menos espiritualmente.

Deus oferece a todas as pessoas, durante a vida, uma ocasião destas, para que a saibam aproveitar.

«O Reino do Céu é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Tendo encontrado uma de grande valor, vende tudo quanto possui e compra a pérola».

É um convite concreto a pôr de lado todos aqueles ídolos que podem ocupar o lugar de Deus no nosso coração: a carreira, o casamento, os estudos, uma linda casa, a profissão, o desporto, o lazer. É um convite para pôr Deus em primeiro lugar, no centro de cada nosso pensamento, de cada nosso afecto. Porque, na nossa vida, tudo deve convergir para Ele e tudo deve provir d’Ele.

Se assim fizermos, se procurarmos o Reino, segundo a promessa evangélica, tudo o resto nos será dado por acréscimo (3). Deixando tudo pelo Reino de Deus, recebemos cem vezes mais em casas, irmãos, irmãs, pais e mães (4). Porque o Evangelho tem uma nítida dimensão humana: Jesus é Homem-Deus e, juntamente com o alimento espiritual, dá-nos o pão, a casa, a roupa, a família. Temos, talvez, que aprender com as “crianças” a confiar mais na Providência do Pai, que não deixa faltar nada a quem dá, por amor, todo aquele pouco que possui.

Já há uns meses que, no Congo, um grupo de jovens fazia postais artísticos com a casca da banana, que depois eram vendidos na Alemanha. No princípio ficavam com tudo o que ganhavam (alguns mantinham a família com esse dinheiro). Depois decidiram pôr em comum 50% e, deste modo, 35 jovens desempregados receberam uma ajuda.

Mas Deus não se deixou vencer em generosidade: dois desses rapazes deram um tal testemunho na loja onde trabalhavam, que diversos comerciantes, em busca de pessoal, dirigiram-se àquela loja. E assim, onze jovens encontraram um emprego fixo.

Chiara Lubich

1) Palavra de Vida, Julho de 1999, publicada em Città Nuova, 1999/12, p. 39; 2) Sb 7, 9; 3) cf. Lc 12, 31; 4) cf. Mt 19, 29.

Ouça a versão audio aqui


terça-feira, 1 de junho de 2010

Palavra de Vida - Junho - com fotografias

Para os mais jovens aqui fica a Palavra de Vida deste mês - adaptação ao comentário de Chiara Lubich - ilustrada com fotografias. Pode fazer-se o download para o computador ou clicar em cima para ver a imagem maior.

Palavra de Vida - Junho

«Aquele que tentar salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele que a perder, por Minha causa, reencontrá-la-á»
[Mt 10, 39]. (1)

Ao lermos esta Palavra de Jesus deparamo-nos com dois tipos de vida bem distintos: a vida terrena, que se constrói neste mundo, e a vida sobrenatural, dada por Deus através de Jesus. A vida sobrenatural não acaba com a morte e ninguém no-la pode tirar.
Diante da existência podemos, então, ter duas atitudes: apegar-nos à vida terrena, considerando-a como o nosso único bem (e seremos levados a pensar só em nós mesmos, nas nossas coisas, nas criaturas; a fechar-nos na nossa concha, e procurar afirmar o nosso “eu”. No fim, como conclusão, vamos encontrar, inevitavelmente, apenas a morte). Ou, pelo contrário, acreditando que recebemos de Deus uma existência muito mais profunda e autêntica, podemos ter a coragem de viver de modo a merecermos essa dádiva, até ao ponto de sabermos sacrificar a nossa vida terrena pela outra.


«Aquele que tentar salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele que a perder, por Minha causa, reencontrá-la-á».

Quando Jesus proferiu estas palavras pensava no martírio. Nós, como qualquer cristão, se quisermos seguir o Mestre e permanecer fiéis ao Evangelho, temos que estar prontos a perder a nossa vida, morrendo – se necessário – até de morte violenta. E, com a graça de Deus, através dessa morte, ser-nos-á dada a verdadeira vida. Jesus foi o primeiro a «perder a sua vida» e a recebê-la de novo, glorificada. Ele avisou-nos previamente para não temermos «os que matam o corpo e não podem matar a alma» (2).
Hoje diz-nos:

«Aquele que tentar salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele que a perder, por Minha causa, reencontrá-la-á».

Se lermos atentamente o Evangelho, veremos que Jesus repete este conceito umas boas seis vezes. É uma prova do valor e da importância que Jesus lhe dá.
Mas a exortação a perder a própria vida não é, para Jesus, apenas um convite a suportar até o martírio. É uma lei fundamental da vida cristã.
É preciso estarmos prontos a não fazer da nossa pessoa o ideal da vida. Temos que renunciar à nossa independência egoísta. Se quisermos ser verdadeiros cristãos, temos de fazer de Cristo o centro da nossa existência. E o que é que Cristo quer de nós? Quer o amor pelos outros. Se assumirmos em nós este Seu programa, teremos a certeza de perder o nosso eu e de encontrar a vida.
Sem dúvida, este não viver para nós próprios não é, como se poderia pensar, uma atitude passiva ou de desistência. O empenho do cristão é sempre muito grande e o seu sentido de responsabilidade é total.

«Aquele que tentar salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele que a perder, por Minha causa, reencontrá-la-á».

Já nesta Terra podemos fazer a experiência de que, ao darmo-nos aos outros, vivendo no amor, cresce em nós a vida. Quando gastarmos o nosso dia ao serviço dos outros, quando soubermos transformar o trabalho quotidiano – talvez monótono e duro – num gesto de amor, experimentaremos a alegria de nos sentirmos mais realizados.

«Aquele que tentar salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele que a perder, por Minha causa, reencontrá-la-á».

E, se seguirmos os preceitos de Jesus, que são todos baseados no amor, depois desta breve existência, vamos encontrar também a Vida eterna.
Lembremo-nos de como será o julgamento de Jesus no último dia. Ele irá dizer aos da sua direita: «Vinde, benditos... Porque tive fome e destes-Me de comer...; era peregrino e recolhestes-Me; estava nu e destes-Me que vestir...» (3). Como condição para podermos participar na existência que não passa, Ele só vai ver se amámos o próximo e vai considerar feito a Si tudo o que tivermos feito ao nosso próximo.

Como viver, então, esta Palavra? Como poderemos perder, desde já, a nossa vida para a voltarmos a encontrar? Preparando-nos para o grande e decisivo exame para o qual nascemos.
Olhemos com atenção à nossa volta e enchamos os dias de actos de amor. Cristo apresenta-se a nós na esposa, no marido, nos nossos filhos, nos colegas de trabalho, de partido, de lazer, etc. Façamos o bem a todos. E não esqueçamos aqueles com quem travamos conhecimento todos os dias através dos jornais, dos amigos, ou da televisão… Façamos qualquer coisa por todos eles, segundo as nossas possibilidades. E, quando tivermos a impressão de ter esgotado todas as possibilidades, podemos ainda rezar por eles. O amor é a coisa mais importante.

Chiara Lubich

1) Palavra de Vida, Junho de 1999, publicada em Città Nuova, n.º 10/1999, p. 43; 2) Mt 10, 28; 3) cf. Mt 25, 34 ss.


Ouça a versão audio aqui

sábado, 1 de maio de 2010

Palavra de Vida - Maio - com fotografias


Para os mais jovens aqui fica a Palavra de Vida deste mês - adaptação ao comentário de Chiara Lubich - ilustrada com fotografias. Pode fazer-se o download para o computador ou clicar em cima para ver a imagem maior.

Palavra de Vida - Maio - com desenhos

Para as crianças aqui fica a Palavra de Vida deste mês - adaptação ao comentário de Chiara Lubich - ilustrada com desenhos. Pode fazer-se o download para o computador, para imprimir e pintar ou clicar em cima para ver a imagem maior.

Palavra de Vida - Maio

«Aquele que Me ama será amado por Meu Pai, e Eu amá-lo-ei e manifestar-Me-ei a ele» [Jo 14, 21]. (1)

O ponto central do último discurso de Jesus é o amor: o amor do Pai pelo Filho e o nosso amor por Jesus, que significa cumprir os Seus mandamentos.
Para as pessoas que escutavam Jesus, não era difícil reconhecer nas Suas palavras um eco do Livro da Sabedoria: «Amar (a Sabedoria) é obedecer às suas leis» (2) e «os que amam a Sabedoria, descobrem-na facilmente» (3). Sobretudo, aquele "manifestar-Se a quem O ama", encontra um paralelismo no Antigo Testamento em Sab 1, 2, onde se diz que o Senhor Se revela «aos que não perdem a fé n'Ele».
Ora o sentido da Palavra, que propomos para este mês, é: quem ama o Filho é amado pelo Pai e é amado também pelo Filho, que se manifesta a ele.

«Aquele que Me ama será amado por Meu Pai, e Eu amá-lo-ei e manifestar-Me-ei a ele».

Mas, para que Jesus se manifeste, é preciso amar.

Não se pode imaginar um cristão que não tenha esse dinamismo, essa força de amor no coração. Um relógio não funciona, não mostra as horas – e pode dizer-se até que nem é um relógio –, se não tiver corda ou pilhas. Assim um cristão, se não estiver sempre pronto a amar, não merece o nome de cristão.

Isto porque todos os mandamentos de Jesus se resumem num único: no preceito de amar a Deus e amar o próximo. E, em cada próximo, vê-se e ama-se Jesus.
O amor não é um mero sentimentalismo. Traduz-se numa vida concreta, no serviço aos irmãos – sobretudo àqueles que estão ao nosso lado –, começando pelas coisas pequenas, pelos serviços mais humildes.

Charles de Foucauld diz: «Quando amamos alguém, identificamo-nos plenamente com ele, identificamo-nos com o amor, vivemos nesse alguém com o amor; já não vivemos em nós, estamos "desprendidos" de nós, "fora" de nós» (4).

E é com este amor que a Sua luz, a luz de Jesus pode penetrar em nós, segundo a Sua promessa: «Àquele que Me ama... manifestar­-Me-ei a ele» (5). O amor é fonte de luz: quando amamos, compreendemos melhor Deus, que é Amor.

E isso faz com que amemos ainda mais e aprofundemos o relacionamento com aqueles com quem contactamos.

Essa luz, esse conhecimento amoroso de Deus é, portanto, o sinal, a prova do verdadeiro amor. E podemos experimentá-la de várias maneiras. Porque, em cada um de nós, a luz assume uma cor, uma tonalidade diferente. Mas tem características comuns: ilumina­-nos acerca da vontade de Deus, dá-nos paz, serenidade e uma compreensão nova da Palavra de Deus. É uma luz quente, que nos estimula a avançar pelo caminho da vida de um modo cada vez mais firme e rápido. Quando as sombras da existência tornarem incerto o nosso caminho, quando nos sentirmos até bloqueados pela escuridão, esta Palavra do Evangelho recordar-nos-á que a luz acende-se com o amor e que será suficiente um gesto concreto de amor, até pequeno (uma oração, um sorriso, uma palavra), para nos dar aquele fio de esperança que nos permite ir em frente.

Quando nós andamos de bicicleta, à noite, se pararmos, ficamos na escuridão. Mas, se voltarmos a pedalar, o dínamo fornecerá a corrente necessária para iluminar o caminho.

Assim acontece na vida: basta voltar a pôr em acção o verdadeiro amor – o amor que dá, sem esperar nada em troca – para reacendermos em nós a fé e a esperança.


Chiara Lubich

1) Palavra de Vida, Maio de 1999, publicada em Città Nuova, n.º 8/1999, p. 49; 2) Sab 6, 18; 3) cf. Sab 6, 12; 4) Charles de Foucauld, Scritti Spirituali, VII, Ed. Città Nuova, Roma 1975, p. 110; 5) cf. Jo 14, 21.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Palavra de Vida - Abril - com fotografias

Para os mais jovens aqui fica a Palavra de Vida deste mês - adaptação ao comentário de Chiara Lubich - ilustrada com fotografias. Pode fazer-se o download para o computador ou clicar em cima para ver a imagem maior.

Palavra de Vida - Abril - com desenhos

Para as crianças aqui fica a Palavra de Vida deste mês - adaptação ao comentário de Chiara Lubich - ilustrada com desenhos. Pode fazer-se o download para o computador, para imprimir e pintar ou clicar em cima para ver a imagem maior.

Palavra de Vida - Abril

«Eu sou a Ressurreição e a Vida» [Jo 11, 25]. (1)

Jesus pronunciou estas palavras por ocasião da morte de Lázaro, em Betânia. Quatro dias depois de Lázaro ter morrido, Jesus ressuscitou-o.
Lázaro tinha duas irmãs: Marta e Maria.
Quando ouviu dizer que Jesus estava a chegar, a Marta saiu ao seu encontro e disse-lhe: «Senhor, se Tu cá estivesses, o meu irmão não teria morrido». Jesus respondeu-lhe: «O teu irmão ressuscitará». A Marta retorquiu: «Eu sei que ele há-de ressuscitar na Ressurreição, no último dia». E Jesus declarou: «Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em Mim, mesmo que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em Mim não morrerá para sempre».

«Eu sou a Ressurreição e a Vida».

Jesus quer fazer compreender quem é Ele para o homem. Jesus possui o bem mais precioso que se pode desejar: a Vida. Aquela Vida que não morre.
Se lermos o Evangelho de São João, descobrimos que Jesus também disse: «Assim como o Pai tem a Vida em Si mesmo, também deu ao Filho o poder de ter a Vida em Si mesmo» (2). E, uma vez que Jesus tem a Vida, pode comunicá-la.

«Eu sou a Ressurreição e a Vida».

Também a Marta acreditava na ressurreição final: «Eu sei que há-de ressuscitar na Ressurreição, no último dia».
Mas Jesus, com a sua afirmação maravilhosa: «Eu sou a Ressurreição e a Vida», faz-lhe compreender que não deve ficar à espera do futuro para ter esperança na ressurreição dos mortos. Desde já, no tempo presente, Ele é, para todos os que acreditam, aquela Vida divina, inefável, eterna, que nunca morrerá.
Se Jesus está neles, se está em nós, não morreremos. Naqueles que acreditam, esta Vida é da mesma natureza de Jesus ressuscitado, e, portanto, bem diferente da condição humana em que se encontram. E esta Vida extraordinária, que já existe também em nós, há-de manifestar-se plenamente no último dia, quando participarmos, com todo o nosso ser, na ressurreição futura.
«Eu sou a Ressurreição e a Vida».

Claro que, com estas palavras, Jesus não nega que existe a morte física. Mas esta não implica a perda da Vida verdadeira. A morte será para nós, como para todos, uma experiência única, fortíssima e talvez temida. Mas já não vai significar a ausência de uma existência, já não será o absurdo, o fracasso da vida, o nosso fim. A morte, para nós, já não será uma verdadeira morte.

«Eu sou a Ressurreição e a Vida».

E quando é que nasce em nós esta Vida que não morre?
No Baptismo. Ali, embora na nossa condição de pessoas que devem morrer, recebemos de Cristo a Vida imortal. De facto, no Baptismo recebemos o Espírito Santo, que foi Quem ressuscitou Jesus.
E a condição para receber este sacramento é a nossa fé, que nós professámos através dos nossos padrinhos. Com efeito, Jesus, no episódio da ressurreição de Lázaro, ao falar com a Marta, disse explicitamente: «Quem crê em Mim, mesmo que tenha morrido, viverá. (...) Crês nisto?» (3).
«Crer», aqui, é um factor fundamental, muito importante: não implica apenas aceitar as verdades anunciadas por Jesus, mas aderir a elas com todo o ser.
Para termos esta vida, devemos, portanto, dizer o nosso sim a Cristo. Isso significa adesão às suas palavras, aos seus mandamentos: vivê-los. Jesus confirmou-o: «Se alguém observar a Minha palavra, nunca morrerá» (4). E os ensinamentos de Jesus estão todos concentrados no amor.
Por conseguinte, não podemos deixar de ser felizes: temos a Vida em nós!

«Eu sou a Ressurreição e a Vida».

Neste período em que nos preparamos para celebrar a Páscoa, ajudemo-nos uns aos outros a fazer uma mudança de rumo – que é preciso renovar sempre –: ir na direcção da morte do nosso eu, para que Cristo, o Ressuscitado, viva em nós a partir de agora.

Chiara Lubich

1) Palavra de Vida, Março de 1999, publicada em Città Nuova, 25.2.1999, n.º 4, p. 45; 2) Jo 5, 26; 3) Jo 11, 25-26; 4) Jo 8, 51.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Palavra de Vida - Março - com fotografias

Para os mais jovens aqui fica a Palavra de Vida deste mês - adaptação ao comentário de Chiara Lubich - ilustrada com fotografias. Pode fazer-se o download para o computador ou clicar em cima para ver a imagem maior.

Palavra de Vida - Março

«Em verdade vos digo: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: “Muda-te daqui para acolá”, e ele há-de mudar-se; e nada vos será impossível» [Mt 17, 20]. (1)

Quantas vezes não sentimos a necessidade de uma ajuda? Mas, ao mesmo tempo, percebemos que a nossa situação não pode ser resolvida só por meios humanos! É então que, sem nos darmos conta, nos dirigimos a Alguém que sabe tornar possíveis até as coisas impossíveis. Esse Alguém tem um nome: é Jesus.
Ele disse:

«Em verdade vos digo: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: “Muda-te daqui para acolá”, e ele há-de mudar-se; e nada vos será impossível».

É evidente que a expressão “mudar as montanhas” não deve ser tomada à letra. Jesus não prometeu aos discípulos o poder de realizar milagres espectaculares, para impressionar as multidões. De facto, se formos procurar em toda a história da Igreja, não vamos encontrar – que eu saiba – nenhum santo que tenha deslocado montanhas com a fé. “Mudar as montanhas” é uma hipérbole, uma maneira de falar propositadamente exagerada, para inculcar no espírito dos discípulos a ideia de que nada é impossível à fé.
De facto, todos os milagres que Jesus realizou – directamente, ou através dos seus discípulos – fê-los sempre em função do Reino de Deus, do Evangelho, ou da salvação dos homens. Deslocar uma montanha não serviria para este objectivo. A comparação com o “grão de mostarda” indica que Jesus não nos pede uma fé maior ou mais pequena. Pede-nos, sim, uma fé autêntica. E aquilo que caracteriza uma fé autêntica é o facto de nos apoiarmos unicamente em Deus e não nas nossas capacidades pessoais.
Se nos surgir uma dúvida ou uma hesitação na fé, isso significa que a nossa confiança em Deus não é ainda completa: temos uma fé muito fraca e pouco eficaz, que ainda se apoia nas nossas forças e na lógica humana. Pelo contrário, quem confia inteiramente em Deus, deixa que seja Ele mesmo a agir e... a Deus nada é impossível.
A fé que Jesus quer dos discípulos é precisamente aquela atitude cheia de confiança que permite que o próprio Deus manifeste o Seu poder. E esta fé, que consequentemente desloca montanhas, não está reservada só a pessoas excepcionais. É acessível a qualquer crente e é um dever para todos nós.

«Em verdade vos digo: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: “Muda-te daqui para acolá”, e ele há-de mudar-se; e nada vos será impossível».

Pensa-se que Jesus disse estas palavras, aos seus discípulos, quando estava para os enviar em missão. É fácil perder a coragem e assustar-se quando se tem a consciência de ser um pequeno rebanho mal preparado, sem talentos especiais, perante multidões imensas a quem é preciso levar a verdade do Evangelho. É fácil desanimar diante de pessoas cujos interesses são tudo menos o Reino de Deus.
Parece uma tarefa impossível.
É então que Jesus garante aos seus que, com a fé, “mudarão as montanhas” da indiferença, do desinteresse de todos.
Se tiverem fé, nada lhes será impossível. Esta frase, além disso, pode ser aplicada a todas as outras circunstâncias da vida, desde que se orientem para o progresso do Evangelho e para a salvação das pessoas.
Às vezes, perante dificuldades intransponíveis, pode surgir a tentação de não nos dirigirmos sequer a Deus. A lógica humana sugere: não é preciso, de que é que adianta?...
É para esses casos que Jesus nos exorta a não perdermos a coragem e a dirigirmo-nos a Deus com confiança. De um modo ou de outro Ele vai ajudar-nos.
Foi o que aconteceu com a Lella.
Havia alguns meses que começara, cheia de esperança, o seu novo trabalho na Bélgica, com o povo flamengo. Mas agora sentia-se oprimida por um sentimento de desânimo e de solidão. Parecia que entre ela e as colegas, com quem trabalhava e vivia, se tinha erguido uma barreira intransponível.
Sentia-se isolada, estrangeira, no meio daquela gente, que gostaria de servir simplesmente com amor. E isto porque tinha que falar uma língua que não era a sua nem a de quem a ouvia. Tinham-lhe dito que na Bélgica toda a gente falava francês. E ela foi aprendê-lo. Mas, quando entrou em contacto directo com aquele povo, verificou que os flamengos só estudam francês na escola e, em geral, quando têm que falar em francês, fazem-no de má vontade. Tentara muitas vezes afastar aquela montanha de marginalização que a mantinha afastada das outras, mas em vão. O que poderia fazer por elas? Não lhe saía da memória o rosto da sua companheira Godeliève, cheio de tristeza. Naquela noite tinha-se retirado para o quarto sem tocar na comida.
A Lella tinha tentado segui-la, mas, ao chegar à porta do quarto, detivera-se, tímida e hesitante. Quisera bater... mas que palavras utilizar para se fazer compreender? Ficara ali alguns segundos. Depois, rendera-se uma vez mais.
Na manhã seguinte entrou na igreja e sentou-se lá no fundo, num dos últimos bancos. Escondeu a cara entre as mãos para ninguém ver as suas lágrimas. Ali era o único lugar onde não era preciso falar outra língua, onde nem sequer era necessário explicar-se, porque estava ali Alguém que compreendia para além das palavras. Foi a certeza daquela compreensão que lhe deu coragem. E, com a alma cheia de angústia, perguntou a Jesus: «Porque é que não posso partilhar com as outras a sua cruz e dizer aquelas palavras que Tu mesmo me fizeste compreender quando Te encontrei: que todos os sofrimentos são amor?».
E ficou diante do tabernáculo, quase à espera de uma resposta de Quem lhe tinha iluminado todos os vazios da sua vida.
Olhou depois para o Evangelho daquele dia e leu: «Tende confiança: Eu já venci o mundo!» (2). Aquelas palavras caíram como um bálsamo na alma da Lella, que sentiu uma grande paz.
Quando voltou para casa para o pequeno-almoço encontrou logo a Annj, que era a responsável pela ordem da casa. Cumprimentou-a e foi atrás dela até à dispensa. Depois, em silêncio, começou a ajudá-la a preparar o pequeno-almoço.
A primeira a descer do quarto foi a Godeliève. Vinha buscar o café à cozinha, à pressa, para não ver ninguém. Mas, naquele momento, parou: a paz da Lella impressionou a sua alma mais do que qualquer palavra.
À tarde, quando voltavam para casa, de bicicleta, a Godeliève aproximou-se da Lella e, procurando falar de maneira que ela compreendesse, sussurrou-lhe: «Não precisas de falar. Hoje a tua vida disse-me: “Ama tu também!”».
A montanha tinha-se deslocado.

«Em verdade vos digo: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: “Muda-te daqui para acolá”, e ele há-de mudar-se; e nada vos será impossível».

Chiara Lubich

1) Palavra de Vida, Setembro de 1979, publicada em Essere la Tua Parola/2. Chiara Lubich e cristiani di tutto il mondo, Roma 1982, pp. 71-74; 2) cf. Jo 16, 33.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Palavra de Vida - Fevereiro - com fotografias

Para os mais jovens aqui fica a Palavra de Vida deste mês - adaptação ao comentário de Chiara Lubich - ilustrada com fotografias. Pode fazer-se o download para o computador ou clicar em cima para ver a imagem maior.

Palavra de Vida - Fevereiro - com desenhos


Para as crianças aqui fica a Palavra de Vida deste mês - adaptação ao comentário de Chiara Lubich - ilustrada com desenhos. Pode fazer-se o download para o computador, para imprimir e pintar ou clicar em cima para ver a imagem maior.

Palavra de Vida - Fevereiro

«Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim estará salvo; há-de entrar e sair e achará pastagem» [Jo 10, 9]. (1)

Jesus apresenta-se como aquele que realiza as promessas divinas e as expectativas de um povo, cuja história está profundamente marcada pela aliança, jamais anulada, com o seu Deus.
A ideia da porta faz lembrar e explica-se melhor com outra imagem usada por Jesus: «Eu sou o Caminho, (...) Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim» (2). Portanto, Ele é realmente um caminho e uma porta aberta para o Pai, para o próprio Deus.

«Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim estará salvo; há-de entrar e sair e achará pastagem».

O que é que significa, concretamente, esta Palavra na nossa vida? Há muitos conceitos que se podem deduzir a partir de outras passagens do Evangelho, relacionadas com o trecho de São João. Mas escolhemos a imagem da «porta estreita». Precisamos de nos esforçar por passar pela «porta estreita» (3) para entrar na vida.
Porquê esta escolha? Porque nos parece ser aquela que mais nos aproxima da verdade que Jesus diz de Si mesmo e a que melhor nos esclarece sobre o modo de a viver.
Quando é que Jesus se torna a porta totalmente aberta, de par em par, para a Trindade? É precisamente quando a porta do Céu parece fechar-se para Ele. Nesse momento, Ele mesmo torna-se a porta do Céu para todos nós.
Jesus abandonado (4) é a porta através da qual se realiza o intercâmbio perfeito entre Deus e a humanidade: tendo-se feito nada, une os filhos ao Pai. É aquele vazio (o vão da porta) que possibilita o encontro do homem com Deus e de Deus com o homem.
Portanto, Ele é, ao mesmo tempo, a porta estreita e a porta totalmente aberta. E nós podemos experimentar isso em nós.

«Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim estará salvo; há-de entrar e sair e achará pastagem».

Jesus no abandono tornou-se, para nós, um acesso ao Pai.
O que dependia d'Ele está feito. Mas, para usufruir dessa graça tão grande, cada um de nós deve também fazer o seu pequeno esforço, que consiste em aproximar-se daquela porta e passar para o outro lado. Como?
Quando formos surpreendidos por uma decepção, ou feridos por um trauma, uma desgraça imprevista ou uma doença absurda, podemos recordar sempre o sofrimento de Jesus, que personificou todas estas provações, e muitas mais.
Sim, Ele está presente em tudo aquilo que tem aspecto de sofrimento. Cada sofrimento nosso é um nome de Jesus.
Tentemos, então, reconhecer Jesus em todas as angústias e dificuldades da vida, em todas as trevas, nas tragédias pessoais e dos outros, no sofrimento da humanidade que nos rodeia. É sempre Ele, porque tomou sobre Si tudo isso. Basta dizer-Lhe, com fé: «És tu, Senhor, o meu único bem» (5). Basta fazer qualquer coisa de concreto para aliviar os "Seus" sofrimentos nos pobres e nos infelizes, para atravessarmos aquela porta, e encontrarmos, do outro lado, uma alegria nunca antes experimentada, uma nova plenitude de vida.

Chiara Lubich

1) Este comentário, publicado por completo, encontra-se em Città Nuova, 25.3.1999, n.º 6, p. 47; 2) cf. Jo 14, 6; 3) cf. Mt 7, 13; 4) cf. Mc 15, 34 e Mt 27, 46; 5) cf. Sl 16 (15), 2.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Palavra de Vida - Janeiro - com desenhos


Para as crianças aqui fica a Palavra de Vida deste mês - adaptação ao comentário de Chiara Lubich - ilustrada com desenhos. Pode fazer-se o download para o computador, para imprimir e pintar ou clicar em cima para ver a imagem maior.

Palavra de Vida - Janeiro - com fotografias


Para os mais jovens aqui fica a Palavra de Vida deste mês - adaptação ao comentário de Chiara Lubich - ilustrada com fotografias. Pode fazer-se o download para o computador ou clicar em cima para ver a imagem maior.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Palavra de Vida - Janeiro

«Ele habitará com eles; eles serão o seu povo» [cf. Ap 21, 3]. (1)

De 18 a 25 de Janeiro, em muitos lugares do mundo, celebra-se a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Noutros, celebra-se no Pentecostes.
Como sabemos, Chiara geralmente fazia o comentário sobre o trecho bíblico que era escolhido para essa ocasião, com a Palavra de Vida desse mês.
Este ano a frase bíblica para a Semana de Oração é: «Vós sois as testemunhas destas coisas» (Lc 24, 48). Para nos ajudar a vivê-la, propomos este texto de Chiara que é um "apelo insistente" para que nós, cristãos, testemunhemos ao mundo a presença de Deus.

«Esta é a morada de Deus entre os homens.

Ele habitará com eles; eles serão o seu povo

e o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus» (Ap 21, 3).

A Palavra de Deus deste mês interpela-nos: se queremos fazer parte do Seu povo, temos que O deixar viver entre nós. Mas como será possível realizar isto? O que fazer para saborearmos um pouco, já aqui na Terra, daquela alegria sem fim que teremos ao contemplarmos Deus? Foi isto precisamente que Jesus nos revelou. E foi justamente esse o significado da Sua vinda: comunicar-nos a Sua comunhão de amor com o Pai, a fim de que também nós a vivamos.
Nós, cristãos, podemos viver desde já esta frase e ter Deus no meio de nós. Ter Deus no meio de nós requer – como afirmam os Padres da Igreja – determinadas condições. Para S. Basílio, é viver segundo a vontade de Deus; para S. João Crisóstomo, é amar como Jesus amou; para Teodoro Studita é o amor recíproco; e para Orígenes é o acordo de pensamento e de sentimentos para alcançar a concórdia que «une e contém o Filho de Deus» (2).
Mas é no ensinamento de Jesus que está o segredo para fazer com que Deus habite no meio de nós: «Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei» (cf. Jo 13, 34). O amor recíproco é o segredo da presença de Deus. «Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós» (1 Jo 4, 12), pois: «Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles» (Mt 18, 20), disse Jesus.

«Ele habitará com eles; eles serão o seu povo».

Portanto, não é inalcançável nem está assim tão longe o dia em que se vão cumprir todas as promessas da Antiga Aliança: «A minha morada será no meio deles. Serei o seu Deus e eles serão o meu povo» (Ez 37, 27).
Tudo isso já se realiza em Jesus, que, para além da sua existência histórica, continua a estar presente entre aqueles que vivem segundo a nova lei do amor recíproco, ou seja, segundo aquela norma que os constitui como um povo, o povo de Deus.
Esta Palavra de Vida é, pois, um apelo insistente (dirigido sobretudo a nós, cristãos) para testemunharmos, com o amor, a presença de Deus. «Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35). O mandamento novo, vivido assim, estabelece as condições para que se realize a presença de Jesus entre as pessoas.
Não poderemos fazer nada se esta presença não estiver garantida. Presença que dá sentido à fraternidade sobrenatural que Jesus trouxe à Terra para toda a humanidade.

«Ele habitará com eles; eles serão o seu povo».

Mas cabe sobretudo a nós, cristãos – embora pertencendo a várias comunidades eclesiais –, apresentar ao mundo a beleza de um único povo, feito de pessoas de todas as etnias, raças e culturas; de adultos e de crianças; de doentes e de sãos. Um único povo do qual se possa dizer, como se dizia dos primeiros cristãos: «Vede como se amam e estão prontos a dar a vida uns pelos outros».
É este o "milagre" que a humanidade aguarda para poder voltar a ter esperança. É um contributo necessário para o progresso ecuménico, para o caminho até à unidade plena e visível dos cristãos. É um "milagre" que está ao nosso alcance, ou melhor, ao alcance d'Aquele que, habitando entre os seus unidos pelo amor, pode modificar o destino do mundo e conduzir a humanidade inteira para a unidade.


Chiara Lubich

1) Palavra de Vida, Janeiro de 1999, publicada em Città Nuova 1998, n.º 24, p. 59; 2) Comment. In. Matth., XIIl, 15, PG 13, 1131.